"A música é Universal", um chavão por todos conhecido. Acontece que cada estilo musical tem a sua própria identidade, sonoridade e ritmo. Por isso, as soluções "fusion" nem sempre resultam, sendo muitas vezes inglório o esforço dos intérpretes.
No meu entender, foi o que aconteceu a noite passada em Macau. Os protagonistas eram o fadista Camané e a orquesta chinesa de Macau. À partida estavamos perante dois excelentes interpretes de dois estilos musicais completamente distintos. A aposta era um concerto em que se misturava o som da guitarra Portuguesa e da voz do fadista, com as sonoridades da orquestra de Macau. Perdoem-me os que apreciaram, mas eu acho que não resultou. Não fora a enorme capacidade dos músicos de ambos os lados e o concerto não teria, mesmo, corrido nada bem. O ritmo do fado é muito próprio, a monotonia dos acordes da viola contrasta com o som rendilhado da guitarra portuguesa que a todos nos enche de saudade. Por outro lado, a voz e a garra do fadista chegam mesmo a arrancar dos mais tímidos, um conhecido "Ah fadista..." no fim de cada música. É por tudo isto que o fado se tem de ouvir num ambiente introspectivo, silencioso, de profunda envolvência com a melodia. Não pode portanto, ser envadido pelos sons dos "gongos", dos "xilofones" e de demais instrumentos, cujos meus parcos conhecimentos musicais, não me deixaram reconhecer.
Apesar de tudo isto, acho que valeu pelo esforço e pela oportunidade que tive de ouvir Camané.
Abraço